Dr. Claudio M. Martins

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Sexualidade ao envelhecer

Como todos os mamíferos, os humanos dependem da relação sexual para terem as/os filhas/os. A natureza deu aos mamíferos uma combinação de prazer/dever que me faz lembrar o anzol do pescador, revestido da minhoca que atrai o peixe e o fisga. O casal apaixonado copula em busca do prazer e ficam surpresos quando ela descobre estar grávida. Nem sempre será assim. O casal apaixonado pode copular em busca da gestação desejada.

Nos humanos o prazer sexual é a atração, fator secundário, que leva à gestação, que é o primário. A mulher encerra a possibilidade de ser mãe no fim do primeiro terço, 40 ou pouco mais, e tem mais 70-80 anos de vida. O homem pode ser pai até o fim de sua vida. Mas o prazer sexual passa por mudanças nesses dois terços finais, dos 40 aos 120 anos, e o que era secundário se torna primário.

Em geral se relaciona o prazer sexual com o orgasmo e este, especialmente no homem, com a ejaculação. Olhemos o que ocorre do meio do ciclo vital, dos 60 anos, em diante.

O casal que teve um ou mais filhos terá a experiência de ser avó/avô, uma flor valiosa no buquê do envelhecimento. O prazer sexual se relaciona com entradas, a boca e a vagina, e com saliências, a língua e o pênis. As práticas habituais são os beijos, com ou sem a língua, e o que antecede à copula, onde dedos e língua são agentes da estimulação. Aquelas práticas que o casal usava antes dos 60 anos podem estar preservadas, com exceção da ereção que passa por um declínio, o que faz a fortuna dos laboratórios viagrenses. Mas tudo o que é preservado, especialmente, as caricias de pele e mucosas, são importantes agentes de prazer e estimulação.

Porque mencionei filhas/os e netas/os? Vamos considerar dois tipos de casais cujo envelhecimento é nitidamente diferente.

Casais que preferiram não ter filhos não gozarão do prazer nem terão os incômodos que netas/netos trazem. Mas o segundo grupo de casais nos ensinam algo. São casais onde dois homens ou duas mulheres vivem juntos. Enquanto os hetero+casais sem filhos gozaram do orgasmo na copula, os homo+ casais tem experiências onde o prazer sexual é só aquilo que nos demais é secundário. Não se entenda que focar essa realidade seja uma desaprovação aos casais homo, afinal é um direito delas/deles. Mas não posso deixar de imaginar o pescador que põe na linha uma minhoca, sem o anzol.

A luta dos casais homo para obter leis nas quais o seu “casamento” seja reconhecido pelas autoridades é revelador da importância de filhas/os e netas/os. Pois a luta pela legalidade do casamento, que espera ter reconhecida a comunhão universal de bens, deseja ter o direito de adotar crianças que preencha esse vazio.

Chegar à condição de avó/avô é de suma importância no envelhecimento e na vida amorosa e no prazer sexual da segunda metade do ciclo vital. De certa maneira estes casais desfrutam de todas as “minhocas” que sempre tiveram nos seus anzóis, regalia reforçada com o sentimento de missão cumprida.

Se nos casais sem filha/o e nos homo+casais falta a vivência da missão cumprida, cabe-lhes também o direito de desfrutar de todas as “minhocas” que seu amor próprio lhes permita. Pois aqui tocamos um ponto básico que os três tipos de casal têm em comum: a liberdade de ser uma senhora ou senhor de sessenta e mais anos e permitir-se todos os prazeres que seus corpos lhes permitam e que possam compartilhar. É necessário liberar-se de uma “boa educação” que considera a vida amorosa nessa metade da vida, indecente e imprópria.

Os homo masculinos têm a possibilidade do coito anal, que falta às mulheres. Mas como vemos nas práticas modernas a língua passou a ser um instrumento sexual de primeira grandeza e a boca substitui com freqüência a vagina. As variações que sempre foram o tudo nos casais homo passa a ser uma opção para todos na fase envelhecida.

Tenho grande admiração pelos atletas para/olímpicos. Aceitam as suas perdas – a visão, uma perna, um braço, a motricidade de partes do corpo – mas lutam arduamente para desenvolver o que ficou e fazer disso a razão de um viver rico.

Nós, as avós e os avôs, que vivemos na segunda metade de nosso ciclo vital também perdemos muito. Não ouvimos como antes, o cabelo ou “azulou” ou branqueou, a pele com tantas rugas, as articulações como os neurônios, envelhecidos e por ai vai. A surpresa de acordar de madrugada com uma ereção como as de antanho, fruto de uma bexiga plena que nos acorda pedindo para ser esvaziada, parece estar mostrando-nos que o sistema ainda pode funcionar, mesmo sem viagra. O que ficou porém pode ser desenvolvido com uma amplitude e plenitude de um senhor ou uma senhora para/olímpicos na vida amorosa e no prazer sexual. Suponho que filhas/filhos e netas/netos devem pensar: Que abuelita/abuelito mas sinverguenza!!! Mas pense que elas/eles, como barcos de um estaleiro, foram lançados ao mar e vivem, felizmente, as suas vidas e claro que nós ainda temos mar para navegar, se tivermos a coragem de viver.

Nessa fase os outros casais podem ter todas as possibilidades que nós temos. Mas falta-lhes esse algo mais que a família de três ou quatro gerações, nos proporciona. Essa diferença nos favorece mas nada impede que os sem filha/filho e os homo naveguem o que for possível, como os atletas para/olímpicos.


Data: 20/06/2011 - 18:37
Autor:: Marcelo Blaya


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