Dr. Claudio M. Martins

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Melhores perspectivas no tratamento dos transtornos mentais



A doença mental acompanha o homem desde os seus primórdios evolutivos. Passando as suas manifestações por inúmeras interpretações, desde os fenômenos alucinatórios e delirantes interpretados como comunicações “divinas” ou profecias malignas advindas de avisos dos “espíritos maus”. Portanto os doentes mentais estiveram no curso da história presentes , ora como personagens anônimos ora como personalidades históricas representativas que mudaram o curso da história.
   
O avanço científico do entendimento dos processos das doenças mentais passou  muitos séculos numa luta entre diversos seguimentos do conhecimento, como a filosofia, religião, sociologia e medicina. Até chegarmos ao modelo atual do biopsicosocial, como áreas que  interagem continuamente no funcionamento da pessoa.
    
Fazendo uma breve resenha das principais abordagens terapêuticas do século XVIII até os nosso dias, poderíamos citar:

  • Banhos frios (séc. XVIII) – O transtorno psíquico ainda permanecia no limbo do mágico e sobrenatural. A tentativa era de “extrair” os males através das terapêuticas biológicas como sangrias, purgativos e mergulhos em água gelada.
  • Choque malárico (1917) – Observando que doentes mentais com paralisia geral progressiva (sífilis) apresentavam melhora depois dos piques febris, o médico Wagner Von Jauregg passou a administrar nos pacientes injeções de sangue de doentes de malária. Após 10 crises, a malária era abortada  com quinino. Entre os primeiros doentes tratados, vários morreram devido a utilização de uma estirpe de plasmódio resistente ao quinino.
  • Choque insulínico (1935) – O médico Manfred Sakell constatou que os estados hipoglicêmicos acompanhados habitualmente  de coma  e ocasionalmente de convulsões tinham um efeito favorável na esquizofrenia. Com injeções diárias de insulina provocavam-se períodos de coma hipoglicêmico, que eram interrompidos pela administração de glicose.
  • Eletroconvulsoterapia (1939) – Desenvolvida pelo italiano Hugo Cerleti, consiste na aplicação de uma corrente elétrica na região da cabeça. Usada primeiramente no tratamento da esquizofrenia, este procedimento segue sendo utilizado até os nossos dias principalmente no caso de depressão grave.
  • Lobotomia (1942) – A técnica foi desenvolvida pelo português Egnas Moniz ( o que lhe valeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1949). Com a cirurgia busca-se  destruir áreas do cérebro responsáveis pelo descontrole dos impulsos agressivos. Em muitos casos a pessoa fica com um déficit de iniciativas e embotamento afetivo.
  • Clorpromazina (1952) – Inicio do uso de psicofarmacos com eficácia no controle dos sintomas psicóticos (alucinações e delírios), proporcionando uma perspectiva de reintegração dos doentes mentais graves (esquizofrênicos) no seu meio. Utilizada até hoje.
  • Antidepressivos tricíclicos (década de 50) – Imipramina, amitriptilina e outros foram os primeiros recursos medicamentosos disponíveis para o tratamento dos transtornos depressivos. Entretanto um grupo grande de pessoas com indicação de tratamento antidepressivo, não os tolerava pelos seus efeitos colaterais (visão turva, boca seca , náusea, alterações cardiovasculares, disfunção sexual entre outros). Segue no  arsenal terapêutico .
  • Fluoxetina (1987) – Ampliou o horizonte de tratamento e pesquisa de novas drogas de Inibição de Recaptação da Serotonina eficazes nos transtornos depressivos e ansiosos. Intitulada inicialmente como a “droga da felicidade”, foi gradualmente sendo identificado melhor as suas possibilidades e limitações. Mas foi um novo divisor de águas no avanço científico das drogas que atuam no sistema serotonérgico. Estima-se que cerca de 35 milhões de pessoas já a utilizaram ao redor do mundo.
  • Novos agentes antipsicóticos (década de 90)- O surgimento dos ditos antipsicóticos atípicos ( por ex: clozapina, risperidona, olanzapina, quietiapine e ziprazidone) nos últimos 15 anos, representaram um significativo avanço em relação aos antipsicóticos convencionais (por ex: clorpromazina, tioridazida, haloperidol, flufenazine). Já que as novas drogas estão associadas com menor distúrbio motor (efeitos extra-piramidais) e ampliam o seu espectro de eficácia, e o seu uso já se expandiu além do tratamento dos transtornos esquizofrênicos, sendo utilizado nos quadros de demência, transtornos do humor, transtornos de ansiedade, e transtornos do desenvolvimento. Entretanto estas medicações não são uma pílula mágica, pois também podem apresentar efeitos colaterais complicadores, como: ganho de peso, diabete mellitus, hyperprolactemia e prolongamento da onda QTc da função cardíaca.

 
Conclusão:
      
Os novos agentes antidepressivos bem como os antipsicóticos atípicos tem melhorado dramaticamente o tratamento dos indivíduos portadores de transtornos afetivos e ansiosos, bem como da esquizofrenia. Com a ampliação do conhecimento das neurociências associadas ao conhecimento dos mecanismos de ação dos neurotransmissores, há uma esperança para os pacientes terem melhores prognósticos para as suas doenças, bem como melhorarem a sua qualidade de vida.
       
A pesquisa continua nos mecanismos de ação destas medicações, conhecimento dos efeitos colaterais, e os benefícios que cada subgrupo de paciente pode ter . Este conjunto de informações instrumentalizam os clínicos  a terem uma arsenal medicamentoso cada vez mais eficaz e seguro no tratamento de doenças tão difíceis como a esquizofrenia e os transtornos afetivos.


Data: 17/01/2007 - 14:57
Autor:: Dr. Cláudio M. Martins (Mestre em psiquiatria)


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