Dr. Claudio M. Martins

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O temor do êxito amoroso (II)



O nosso momento sociocultural é de transição, onde as características de estrutura familiar estão em grande mudança. Pois vejamos, o agrupamento familiar vem se modificando nos últimos decênios, de uma família extensiva (convivência de três gerações na mesma casa) para nuclear (pais e filhos) e, ultimamente, para núcleos familiares uniparentais (um dos pais e filhos) bem como núcleos familiares mosaicos (os pares amorosos trazem filhos de relações anteriores).

Esta mudança nos valores de identificação afetiva vem refletindo decididamente na qualidade amorosa dos relacionamentos. Pois a possibilidade de felicidade e prazer na convivência e na vida sexual estão gradativamente diminuindo.

Há uma tendência em que num momento inicial de conflito conjugal haja acusações que um dos parceiros seja o “doente”. Entretanto, o que se observa na prática clínica é que o sistema como um todo é que está necessitando de ajuste. Pois, apesar das vicissitudes de cada indivíduo, a incompatibilidade conjugal é geralmente responsabilidade de ambos os cônjuges. Já que há um acordo inconsciente no que se refere ao contrato não escrito do casamento.

Tais inseguranças levam ao que poderíamos chamar de “congelamento afetivo” , que se manifesta na dificuldade das pessoas sentirem-se felizes com os seus parceiros. Para “sobreviverem” a esse estado emocional há inúmeros estratagemas. Alguns procuram manter o vínculo de uma maneira artificial, ou seja, fazem de conta que nada está ocorrendo e que o seu relacionamento deve permanecer devido aos filhos, situação econômica, profissional, familiar...Porém, nos momentos de reflexão, há um intenso sentimento de vazio, pois a demanda afetiva de doação e recebimento não está sendo preenchida. O que leva muitos terem de se aliviar da depressão subjacente com alterações na conduta, como na procura de diversos parceiros que, porém, nunca saciam a sede de amar. Já que a verdadeira incompatibilidade é interior, isto é, na busca da maturação da doação afetiva, a pessoa deveria ultrapassar adequadamente as diversas etapas da vida – desde a infância até o seu momento atual. Por isso, observa-se na prática clínica psicoterápica que aquelas pessoas que têm sentimentos de falha na relação afetiva com os pais ou pessoas de importância no seu desenvolvimento amoroso sentirem-se com extrema dificuldade em conseguirem vincular-se amorosamente com alguém.

Portanto, todos nós devemos estar atentos em avaliarmos a nossa própria participação nos momentos de conflito, tristeza e infelicidade amorosa, para que nos reciclemos e possamos ajustar a situação atual ou a partir desta experiência sofrida nos reorganizemos em busca de um novo amor. Pois , como diz o poeta, amar é preciso...


Data: 03/10/2006 - 11:51
Autor:: Dr. Cláudio M. Martins (Mestre em psiquiatria)


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