A imago, ou seja, a imagem corporal que todos nós carregamos dentro de nossa mente traz para alguns imensa satisfação, entretanto, para outros gera frustração e infelicidade. Necessariamente tal equação emocional não está vinculada as características anatômicas do indivíduo, mas sim na maioria das vezes ao processo de aceitação ou não do desenvolvimento psico-sexual da pessoa, no que tange as ultrapassagens adequadas de cada etapa evolutiva da vida bem como ao entorno familiar-social que pode favorecer ou prejudicar o aceitar-se.
Não é incomum que pessoas tenham uma idealização que se alterarem a face, nariz, fazerem uma lipoaspiração, reporem cabelo e assim por diante a sua vida se modificaria e seriam muito mais felizes. Inclusive, para alguns isto se torna uma verdadeira obsessão como se fosse a “única” saída para o bem viver. Numa rápida análise deste fenômeno diria que quanto maior for o grau de expectativa que o procedimento cirúrgico acarretará uma mudança ampla na vida da pessoa, há uma tendência em frustar-se.
Para outros, o avanço da cirurgia plástica estética e reparadora traz igualmente recursos apropriados para correções decorrentes de mal formações ou lesões variadas que quando utilizadas com consciência e grau de expectativa vinculado ao procedimento em si pode gerar uma ampliação da auto-estima e por conseguinte uma melhora global do bem viver.
O grande problema para os médicos, pacientes e familiares envolvidos numa tomada de decisão de fazer-se uma cirurgia plástica estética, está em poder avaliar adequadamente o estado emocional desta pessoa. Há algumas pessoas, que buscam compulsivamente fazerem diversas plásticas, para tentarem ser uma pessoa que nunca foram ou nunca serão. Ou seja, a pessoa carrega dentro de si uma insatisfação crônica com a sua maneira de ser e ilude-se com um pensamento mágico que alterando características corporais externas solucionará as questões não resolvidas de seu mundo psíquico interno.
Um exemplo clássico e comum desta situação é quando nos deparamos com uma pessoa que responsabiliza o seu nariz “mal” formado como responsável de seus insucessos amorosos, e cria a expectativa que uma vez mudando o formato do nariz, toda a sua vida mudará. Quando percebe que tal mudança não ocorre , até porque o “nariz” não tem tal poder e dimensão a que lhe é atribuído, inevitavelmente há frustração e o indivíduo deprime-se. Alguns, chegam a entrar num circulo vicioso, onde estão continuamente as procuras de novas cirurgias para tentarem “solucionarem” algo que não está no corpo e sim numa distorção do processo psíquico provocada por uma mente que não amadureceu satisfatoriamente.
Todas as alterações corporais têm uma profunda repercussão na imagem mental que o indivíduo faz sobre a sua pessoa, por isso pessoas que tenham uma fixação por ter uma aparência “perfeita” ou ter o rosto de algum ídolo popular, ou mesmo, da boneca Barbie podem necessitar de um acompanhamento psicoterápico . Em alguns casos a mudança pode abalar psicologicamente a pessoa, gerando sintomas como: tristeza, ansiedade, irritabilidade, agitação, inquietude entre outros. Portanto, antes da pessoa apostar todas as suas “fichas” emocionais numa mudança cirúrgica ela deveria buscar um entendimento melhor do seu sofrimento intrapsíquico , para aí sim estar mais instrumentalizado para tomar a decisão de fazer o procedimento cirúrgico ou não.
Ampliar os autocuidados com o corpo é saudável, desde que não ocorram exageros ou deformações do processo mental que acompanha os procedimentos escolhidos. Portanto, ajudar o corpo a encarar melhor o processo de envelhecimento ou de má formação é positivo.
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