Dr. Claudio M. Martins

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A Roleta Russa da Droga-Adição



O processo evolutivo do uso para o abuso e conseqüentemente para a dependência das drogas, desenvolve-se na maioria das vezes como este depoimento de uma portadora de dependência: “ ...eu precisava aumentar a minha auto-estima... um tipo de tratamento que me colocou na roda-viva do álcool e das drogas. Eu cheirava cocaína e bebia muito. Entrei nessa de gaiata, para agradar gente que me dizia: Se você não tomar isso, eu deixo de ser seu amigo; Se você não fizer uma carreira comigo, eu vou embora .. A droga afeta seu cérebro, seu trabalho, seu casamento. Sua vida vira um caos.... Gastava uma fortuna por mês... a entrega é feita a domicílio, uma espécie de “pó delivery”...

Neste depoimento temos um exemplo de quanto o processo e instalação de um quadro de dependência química é dramático e gerador de alterações de funcionamento em todas as áreas de atuação da pessoa e causador de um extremo sofrimento.

Não é a toa que esta doença vem ocupando um espaço cada vez maior  na preocupação científica e social  dentre os males que afligem a humanidade, não só por todo o processo bio-psico-social de decadência do indivíduo como pelos dados alarmantes da epidemiologia – já que atingem de cerca de 10% da população.

Os significativos avanços nas últimas duas décadas  nas ciências do comportamento e nas neurociências vêem ampliando o entendimento na questão do abuso de drogas e da droga-adição. As pesquisas também têm demonstrado importantes diferenças entre os cérebros das pessoas aditas e das não aditas, assim como indicando alguns dos elementos  da adição, independente da substância. Portanto, podemos pensar  que temos um “pano de fundo” semelhante no quadro genérico da dependência química, mas que é intercalado por uma série de particularidades de cada indivíduo.

Não há dúvida que tais avanços são positivos no que tange a possibilidade de melhor enfrentamento de tal quadro, por outro lado  há ainda um descompasso  entre esses avanços científicos e a sua aceitação por parte do público geral ou a sua aplicação na prática médica, ou no que ainda é mais grave numa política de saúde pública (já que a magnitude do problema atinge cerca de 15 milhões de brasileiros).

Isto nos leva ao desafio de ampliar o entendimento de tal processo de déficit de autocuidados, de tratar-se o usuário de drogas como portador de uma doença crônica e recidivante, caracterizada pela busca e consumo compulsivo de drogas.

A roleta russa do processo vincula-se ao fato de que apesar de haver fatores de risco determinantes para a evolução do processo de dependência – como o caso de história familiar de adição – na fase de iniciação (geralmente na adolescência) não se consegue detectar quais serão os “escolhidos” a instalarem a doença. Pois de cada cem adolescentes que se iniciam no uso das drogas (não esqueçamos das drogas lícitas – álcool e nicotina) cerca de dez desenvolverão a doença.


Data: 14/04/2006 - 16:01
Autor:: Dr. Cláudio M. Martins (Mestre em psiquiatria)


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