Dr. Claudio M. Martins

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Cyro Martins: cem anos



O ano do centenário de nascimento do meu pai, Dr. Cyro, assim chamado afetiva e respeitosamente pela grande maioria de seus colegas e amigos, me recordou a sua visão humanista tanto através de suas mensagens como pela sua conduta ética e por seu grau de afetividade e bondade costumeiras, o que o tornaram um exemplo que muitos buscam seguir.
Do menino simplório dos pagos de Quarai à personalidade pública, reconhecida e respeitada houve uma trajetória que, dentro do pensamento humanista, visava ao aperfeiçoamento do indivíduo e à harmonia social. Isso se enquadra perfeitamente no seu legado de sabedoria, adquirida no transcorrer de uma vida sob o signo de um desenvolvimento contínuo nas áreas afetiva, profissional, cultural e de lazer; tornando-o um daqueles homens singulares que representam o que há de mais nobre e poderoso no ser humano.
Pela passagem do seu 84 aniversário, em seu “Discurso de Tira” de agradecimento em certo ponto coloca:
....” Mas o que desejo ressaltar é que o principal, depois de estarem Adão e Eva prontos, embasbacados com as delícias do paraíso, Deus não ordenou: falar! Esse foi o primeiro ato falho universal do criador. Cometeria outros no decorrer dos milênios. Não os trarei à tona neste momento. Mas é insopitável a pergunta acerca do primeiro. Que desígnios ocultos estariam acoitados nesse conflito do Senhor? Esse segredo não foi nunca desvendado e nem o será jamais, mesmo porque, a esta altura dos tempos, a idade do Senhor já não é compatível com uma análise...”
Tal passagem sintetiza a importância e o interesse que o fez a interessar-se pela compreensão do ser humano através da observação dos seus múltiplos personagens observados na sua infância de menino campeiro da fronteira até a sua adultez, que foram retratados em sua obra ficcional extensa, associado ao desvendar da curiosidade científica pelo os estudos da psiquiatria e psicanálise.
Formou-se em 1933 em medicina na UFRGS, retorna e clínica em Quarai por breve dois anos, quando sente que o marasmo da pequena cidade fronteiriça lhe inquietava. Em depoimento pessoal, pensou em tomar alguns ares mais “civilizatórios e intelectuais” na vizinha Alegrete. Entretanto o seu rumo foi bem mais distante, pois em 1937 foi estudar Neurologia no Rio de Janeiro, retornou em 1938 para participar do primeiro concurso público para Psiquiatra do Hospital Psiquiátrico São Pedro com ares de concurso para cátedra universitária. Junto com mais três colegas, entre eles Mário Martins, é aprovado. A partir daí a sua carreira médica direcionou-se na ampliação do conhecimento das doenças mentais, tanto através da sua formação psicanalítica, iniciada com a sua ida para Buenos Aires em 1950 e retorno em 1954, quanto a sua intensa participação associativa como um dos fundadores e presidente tanto da Sociedade de Psiquiatria do RS como da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre.
Foi um defensor do “humanismo psicanalítico”, assim se posicionando:” O humanismo psicanalítico é um estímulo a que pensemos sem metafísica sobre a condição do homem em face do universo e sobre a verdade das relações humanas. Portanto, é uma tomada de posição contra o falso, o espúrio, o arbitrário, várias vezes disfarçados de pensamento científico.”
Com esta forma de pensar colaborou significativamente na formação de várias gerações de médicos e psicoterapeutas, tanto como professor, analista e uma liderança inata no desenvolvimento científico.
Clinicou ininterruptamente por 62 anos, quando adoeceu aos 87 anos. Lembro-me de sua tenacidade ao final da vida, quando me solicitou que lhe auxiliasse avisar aos seus pacientes que teria que lhes pedir uma licença médica, pois se sentia sem forças...
Transmitiu o seu conhecimento e idéias através de vasta obra ficcional e de ensaios psicanalíticos, além de inúmeras participações de Congressos Nacionais e Internacionais de Psiquiatria e Psicanálise.
Quando questionado como conseguia produzir tanto, referia que era um escritor do “rabo das Horas”.
Talvez uma das mensagens que possa ficar para os seus colegas de profissão, neste ano oficialmente decretado pela Senhora Governadora Ieda Crusius comemorativo ao centenário de Cyro Martins, foi a da sua proposta para que um bom terapeuta possa auxiliar ao seu paciente desenvolver “um bom senso de realidade, humor e poesia”.
Fica o convite a todos que se interessarem em conhecerem mais a obra de um dos expoentes da cultura gaúcha e brasileira do século XX, que entre na página do Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise Cyro Martins (www.celpcyro.org.br).

Data: 20/08/2008 - 16:10
Autor:: Claudio Meneghello Martins


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